Uma breve história da extinção Permiana

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O Permiano começa há 298 milhões de anos e termina 252 milhões de anos atrás, quando começa o Triássico, tendo durado 46 milhões de anos.

Tempo mais do que suficiente para várias revoluções biológicas. Principalmente durante o início do permiano, o mundo era mais frio e mais oxigenado do que no triássico, durante a chamada glaciação Karoo.

Os tetrápodes, animais com colunas e quatro patas, estavam pegando o jeito da vida nos continentes, forçados por um clima mais seco após o colapso das florestas úmidas globais.

Seus ancestrais no carbonífero haviam acabado de vencer os artrópodes na competição pelas formas de vida dominantes nos continentes.

Uma variedade grande de linhagens de amniotos, tetrápodes adaptados para a vida em terra seca, ocupava os mais diferentes nichos nos ecossistemas permianos.

Antes deles, os tetrápodes estavam restritos a uma vida anfíbia, limitados pela água e incapazes de viver totalmente em terra seca, assim como os sapos atuais.

arte: Tiko

O ovo amniótico, protegido por um couro ou uma casca porosa do mundo externo, permitiu que os tetrápodes ocupassem muitos novos ambientes, e consequentemente, se diversificassem.

Os primeiros amniotos mais bem sucedidos e diversos foram os sinápsidos, a linhagem a qual nós mamíferos pertencemos.

Mas os verdadeiros mamíferos só apareceram muito depois, no fim do triássico.  

Esses sinápsidos permianos não são mamíferos, fazem parte de linhagens que se dividiram antes do ancestral comum de todos os mamíferos atuais e não deixaram nenhum descendente em sua esmagadora maioria.

Alguns desses mamíferos estemáticos desenvolveram corpos imensos capazes de digerir uma quantidade igualmente imensa de matéria vegetal, com um formato de barril e uma cabecinha, como Cotylorhynchus, uma das maiores espécies de caseídeos.

Um desses caseídeos pode até mesmo ter tido um hábito semi aquático, análogos aos hipopótamos atuais, mostrando que os caseídeos foram um dos grupos mais diversos durante o início do permiano.

Mas o permiano abrigou muitos outros herbívoros além dos caseídeos, como os tapinocephalideos, entre eles, Moschops, um herbívoro de quase uma tonelada, adaptado para o combate via cabeçada.

Alguns dos mais famosos sinápsidos do permiano, viveram no início do período, os eupelicossauros, também ecologicamente diversos entre si.

O mais famoso de todos, Dimetrodon era um carnívoro, mas Edaphosaurus, apesar das similaridades superficiais, era um herbívoro.

Mas eles foram só alguns dos primeiros, e não duraram nem até o fim do permiano, sendo substituídos por muitas outras formas cada vez mais especializadas e mais ágeis em terra firme.

Já no meio do permiano, os maiores carnívoros eram os dinocephalios, como Anteosaurus, que chegava aos 5 metros de comprimento e os 700kg.

Mas esses predadores, comparáveis aos maiores carnívoros da atualidade também não duraram até o fim do período.

O começo, o meio e o fim do permiano são três mundos totalmente diferentes.

Nas árvores, um sinápsido amonodonte chamado Suminia parece ter sido um análogo dos macacos atuais, com olhos grandes, dedos longos, algo parecido com um polegar opositor e uma cauda fina e longa e potencialmente preênsil, que pode ter ajudado no seu equilíbrio. 

arte: Miguel Camio

Ele foi um dos primeiros tetrápodes a se adaptar para um hábito arborícola.

Mas talvez os mais emblemáticos dessa era dos mamíferos perdida, sejam os gorgonopsídeos do final do permiano.

arte: Mauricio Antón

Carnívoros robustos, do porte dos maiores carnívoros atuais, com bocas de aberturas impressionantes, crânios gigantescos e dentes longos e afiados.

Os carnívoros de topo do permiano, preparados para abater até mesmo as maiores presas de seus ambientes.

Os gorgonopsideos fazem parte de um diverso grupo de sinápsidos chamados therapsidos. Eles foram os últimos predadores do permiano, tendo substituído os dinocéfalos, predadores também therapsidos do permiano médio, que atingiram tamanhos gigantescos.

Apesar da dominância dos nossos parentes sinápsidos, os sauropsida, o outro lado da família dos amniotos também prosperava, embora geralmente menores e mais discretos.

Exceção a essa regra são os pareiassauros fortemente armados e de corpos robustos, como Scutosaurus, que pode ter pesado mais de uma tonelada, provando que os pararepteis também competiam pela herbivoria com sucesso.

Os ancestrais dos archossauros, linhagem que daria origem aos crocodilos e aves atuais, ainda eram bastante tímidos e relativamente raros.

Ao final do permiano, os tetrápodes continentais haviam se adaptado para ter vidas extremamente ativas, mimados por uma atmosfera rica em oxigênio, muito mais rica do que hoje e muito mais fria, que apesar de seca, era confortável o suficiente.

Esses ecossistemas diversos e dinâmicos prosperaram, mesmo nas condições secas da maioria da Pangea, dominando o mundo por dezenas de milhões de anos. 

Mas o mundo permiano teve um fim trágico: a vida animal como um todo ficou por um fio, na pior extinção em massa de todos os tempos.

Na passagem do permiano para o triássico, nosso planeta estava no limite do que pode ser considerado habitável.

O mais próximo que a vida na Terra já chegou de retornar a uma segunda era das bactérias.

Arte: Leshyk

As análises da temperatura em que certas rochas de mares rasos se formaram, datando dessa época, sugerem águas equatoriais acima de 50 graus célsius.

Tão quente quanto uma banheira de hidromassagem.

No equador, temperaturas escaldantes praticamente impossibilitavam a vida animal, que ficava concentrada nas maiores latitudes, ao sul e ao norte.

Mas a vida vegetal também era, em boa parte, incapaz de lidar com o calor extremo, já que a fotossíntese para essas temperaturas.

Mesmo com as chuvas intensas desse clima, as plantas estavam praticamente banidas do equador, pelo calor, formando extensos desertos úmidos.

Assim como os animais, a vida vegetal também encontrou refúgio mais perto dos pólos da Terra.

O oceano, estagnado, ácido e quente, se torna o ambiente favorável para o crescimento de bactérias púrpuras, que crescem na ausência de oxigênio e envenenam a atmosfera com o tóxico sulfeto de hidrogênio.

O grande culpado é provavelmente um imenso derrame basáltico onde hoje é a Sibéria, que deve ter durado milhões de anos. A atividade vulcânica intensa causa oscilações apocalípticas no clima global.

Um cenário de disrupção das correntes oceânicas, desertificação global e mudanças climáticas caóticas, derrubou as cadeias tróficas e extinguiu os animais grandes e especialistas do permiano.

É estimado que aproximadamente 90% dos animais nos oceanos e nos continentes tenham sido extintos nesse evento caótico de escala global.

arte: Julio Lacerda

Até mesmo os resistentes trilobitas, que foram uns dos primeiros animais, foram perdidos nessa grande morte.

Essa, que é a maior extinção em massa de todos os tempos, encerrou o paleozóico e inaugurou o mesozoico, a era dos Dinossauros, aproximadamente 250 milhões de anos atrás.

Os 10% sobreviventes, fundaram as primeiras comunidades animais do triássico, mas durante os primeiros 5 milhões de anos do triássico, a Terra ainda estava ferida e praticamente vazia de vida.

A evolução já trabalhava a todo vapor, mas as condições ambientais ainda estavam muito longe do agradável.

Um dos animais que sobreviveu a passagem foi o lystrosaurus.

arte: Lucas Mateus

Esse sinápsido dicinodonte, mais próximo de qualquer mamífero do que de qualquer réptil, apesar de ainda parente distante dos mamíferos, dominou as paisagens do início do triássico.

Ele era um generalista, um animal com um nicho amplo, capaz de se alimentar de uma variedade de recursos e se adaptar a diferentes ambientes e modos de vida locais, como um guaxinim.

Os animais que foram extintos nesse evento tendiam a ser os mais especialistas e os maiores, adaptados para um modo de vida particular e que demandam uma boa quantidade de alimento para se manter, como um panda.

Em momentos de extinção em massa, quando a biosfera se desestabiliza, são os pequenos generalistas como lystrosaurus que têm mais chance de sobreviver.

Eles nunca são os animais mais dominantes de um ecossistema, vivendo sempre à margem, explorando qualquer oportunidade, mas de vez em quando eles ganham a loteria da história.

Esse oportunismo histórico muitas vezes é interpretado como superioridade biológica em uma grande guerra evolutiva, quando olhamos a evolução de trás pra frente.

A sobrevivência não é porque eles eram melhores, e sim porque eram menos exigentes ecologicamente, como lystrosaurus.

Nunca antes e nunca depois na história da vida, uma espécie só foi tão abundante e bem sucedida.

Sua habilidade de comer matéria vegetal dura e de cavar para escapar do calor podem ter sido as chaves para sobreviver, quando a maioria dos animais não resistiu.

Apesar desse começo devagar, os ecossistemas eventualmente se recuperaram, e nos 10 milhões de anos seguintes, a taxa de inovação evolutiva decolou ainda mais, com o restabelecimento das florestas.

15 milhões de anos triássico adentro, a Terra já tinha uma das faunas continentais mais diversas de sua história. 

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