Rinocerontes negros sem chifres se tornam menos sociais

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Sem os chifres como sinalizadores sociais, os animais tem diminuído a interação entre si.

Ao olharmos para o passado, temos registros de mais de 30 espécies de rinocerontes que já caminharam pelo planeta. Hoje restam cinco espécies: o branco do sul (Ceratotherium simum simum), o branco do norte, raro e quase extinto (Ceratotherium simum cottoni), o negro (Diceros bicornis), o esquecido de Java (Rhinicerus sondaicos) e o de Sumatra (Dicerorhinus sumatrensis). Os sobreviventes hoje enfrentam um problema em comum: a caça pelos seus chifres.

Os chifres dos rinocerontes são um dos itens mais valiosos para o comércio ilegal de vida selvagem, assim como o marfim dos elefantes, os pênis dos tigres e a cauda da girafa. Na contramão de várias outras espécies, o chifre do rinoceronte não é feito de osso. É feito de queratina, uma proteína também encontrada em nossos cabelos e unhas, e se você aparar o chifre de um rinoceronte, ele volta a crescer.

Um comércio ilegal em expansão abastece principalmente o Vietnã e a China, onde o chifre de rinoceronte é muitas vezes reduzido a pó e ingerido como tratamento para tudo, desde câncer até picadas de cobras marinhas e ressacas. Estima-se que mais de 50% dos rinocerontes de África estão agora em mãos privadas, porém, até onde a iniciativa privada arcará com os custos? Em abril de 2023 o rancho de John Hume – conhecido por possuir o maior rebanho de rinocerontes para extração de chifres, foi levado para leilão, onde nenhum comprador se apresentou. Ao mesmo tempo, a rápida escalada dos custos de combate à caça furtiva significa que cada vez menos proprietários privados podem dar-se ao luxo de manter rinocerontes, deprimindo o mercado de vendas de animais vivos. Quando não se torna lucrativo, a conservação não importa.

No entanto, em 4 de setembro, a African Park, uma organização não governamental, assumiu o rebanho, alegando não continuar com a reprodução intensiva dos animais e realizando a reintrodução em parques. A descorna dos animais pode parecer uma solução eficiente, mas a remoção dos chifres, como medida de combate à caça ilegal pode ter impactado o comportamento e a vida social desses animais em perigo, explica o estudo publicado na revista PNAS feito com rinocerontes negros. Os rinocerontes negros se armam de dois chifres, sendo um deles mais proeminente que o outro. Esses chifres têm a capacidade de crescer até sete centímetros por ano, podendo atingir impressionantes um metro e meio de comprimento. As fêmeas utilizam seus chifres para proteger suas crias, enquanto os machos os empregam em combate contra possíveis rivais.

Mas assim como todos as outras espécies, o seu chifre também foi motivo da sua caça. O rinoceronte negro já percorreu a maior parte da África Subsaariana, mas hoje está à beira da extinção devido à caça furtiva alimentada pela procura comercial do seu chifre.

Assim como o rinoceronte branco, a retirada dos chifres é um método utilizado para outras espécies. Porém o estudo realizado com rinocerontes negros indicou que suas áreas de habitat médias diminuíram pela metade, enquanto suas interações sociais caíram significativamente. Os rinocerontes machos adultos, em particular, demonstraram uma redução nas interações com outros machos.

O chifre possui uma significativa importância na vida dos rinocerontes negros, utilizado em atividades comuns quebrar galhos e acessar a pastagem, e também para interações sociais, visto que a remoção acarreta um comportamento menos afiliativo e taxas de vocalização reduzidas.

Vanessa Duthé, autora principal do estudo explica que eles exploram menos e recuam para partes mais centrais da sua área de vida, os mapas mostram claramente como o tamanho da área de vida é determinado pelo fato de um animal ter chifre. “É como se todos se sentissem menos confiantes e vulneráveis ​​sem chifre” explica Duthé.

A remoção dos chifres dos rinocerontes negros como medida anti-caça furtiva altera a sua ecologia comportamental, embora os potenciais efeitos destas mudanças a nível populacional ainda não tenham sido determinados. Ainda não está claro como isso afetará a estrutura social e o fluxo genético da espécie, mas o estudo abre portas para novos horizontes para a conservação de rinocerontes remanescentes.

Referências:

[1] https://tigersincrisis.com/trade-in-tiger-parts/

[2] https://news.mongabay.com/2023/08/worlds-largest-private-rhino-herd-doesnt-have-a-buyer-or-much-of-a-future/

[3] https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2301727120

[4] https://www.iucnredlist.org/species/6557/152728945

[5] https://zslpublications.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/jzo.13115#jzo13115-bib-0058

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