O mundo dos neandertais

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O nome neandertal vem da região onde o holótipo da espécie foi encontrada, em 1856, o vale de Neander, na Alemanhã.

A maior parte dos indivíduos neandertais que conhecemos são apenas cacos de ossos, esqueletos altamente fragmentados que dizem muito pouco sobre como eram esses humanos.

A maioria dos seus vestígios são ferramentas bifaces e lanças, mais resistentes ao tempo do que seus esqueletos.

No entanto, os Neandertais são os humanos extintos que melhor conhecemos. 

Cerca de 50 mil anos atrás, o hábito de sepultar os mortos se torna comum entre eles, e o registro fóssil começa a ser favorável para a preservação de esqueletos inteiros e articulados, muitas vezes acompanhados de objetos pessoais que podem dizer muito sobre suas vidas.

Isso significa que conhecemos muito mais dos últimos neandertais do que os primeiros. Até hoje, conhecemos apenas 12 esqueletos completos e centenas fragmentados.

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O povo neandertal nasceu e morreu no pleistoceno, conhecido como “a era do gelo”, que começa 2 milhões e seiscentos mil anos atrás e termina cerca de 12 mil anos atrás, quando começa o Holoceno, época em que vivemos atualmente.

Chamamos de glaciação qualquer momento em que a Terra tem dois polos congelados, como hoje.

Nós estamos, de fato, tecnicamente em uma era do gelo, embora a ação humana possa estar mudando isso.

Mas nós estamos em um tipo de verão glacial, uma longa estação que dura dezenas de milênios, chamada interglaciação.

Durante as interglaciações, nosso planeta fica mais quente e mais úmido, sem deixar de ter calotas polares.

Mas grande parte do tempo de uma glaciação passa em um grande inverno rigoroso, que pode durar de dezenas a centenas de milênios, períodos que chamamos de glaciação intensa.

Glaciações e interglaciações se revezam em um ciclo imprevisível, mas quase regular, orientado pelas pequenas alterações na órbita e no eixo de rotação do nosso planeta.

O fato é que durante a esmagadora parte da existência dos Neandertais, a Europa era um lugar frio e altamente desafiador.

Muitas vezes tão extremo, que é incrível que alguma espécie humana tenha se adaptado as suas condições hostis, principalmente considerando que nossos ancestrais são africanos e tropicais, adaptados para o calor.

arte: Julio Lacerda

Mas esse ambiente os moldou, ao longo de milhares de gerações e fez deles uma gente do gelo, biológica e culturalmente.

Eles habitaram a península Euroasiática, onde hoje fica a Europa, o interior da Ásia e o Oriente médio.

Alguns indícios apontam para uma distribuição ainda mais ampla, chegando até a Rússia, mas essas podem ter sido populações muito isoladas no tempo e no espaço, apesar de provarem que o Neandertal também tinha um espírito expansionista.

Mas a grande casa dos neandertais, o ambiente que de fato os esculpiu foi a Europa.

Durante boa parte do Pleistoceno, o nível do oceano era mais de cem metros abaixo do atual, provocando mudanças profundas na geografia europeia, como a exposição de Doggerland, uma vasta planície entre o que hoje são as ilhas britânicas e o continente Europeu.

O extremo Norte europeu era coberto por uma imensa camada de gelo, muito mais extensa do que a calota polar norte atual.

Essa era a razão do nível do mar ser tão mais baixo.

A vida nessas geleiras era impossível, já que elas tinham dezenas, as vezes centenas de metros de espessura.

Mas nos seus entornos, o derretimento sazonal no verão produzia zonas úmidas e férteis, cujos dias longos possibilitavam a fotossíntese das plantas, que cresciam até serem comidas por manadas imensas de animais gigantes.

Essas tundras iluminadas produziam, pelo menos em uma parte do ano, um tipo de savana gelada que atraia multidões de animais de todo o continente.

Entre eles, bisões e mamutes, duas das presas mais visadas dos neandertais.

Mais ao sul da Europa, as estepes e tundras davam passagem para as florestas, muito mais abertas e secas do que as atuais.

arte: Tom Bjorklund

Para sobreviver a essas condições, os neandertais aperfeiçoaram e estreitaram seus laços com o fogo, cujos seus ancestrais em comum conosco já dominavam há muito tempo.

Nas noites congelantes, ele passou a ter um significado muito mais profundo, uma vez que a vida dos neandertais dependia dele.

 

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