50 milhões de anos atrás, onde hoje é a Índia, um mamífero do tamanho de um gato doméstico buscava refúgio de predadores nas águas de rios e lagos.
Um tipo de capivara do Eoceno.
Ele tinha um crânio alongado, cascos nas patas, uma cauda longa e um osso do ouvido que somente um grupo atual tem.
Os cetáceos: baleias e golfinhos.

Arte de Lucas Lima
Hoje, eles são o grupo mais abundante, diverso e dominante de mamíferos aquáticos, e de longe, os mais adaptados para uma vida 100% submersa.
Como qualquer mamífero, elas precisam respirar ar, se alimentar, acasalar, parir e amamentar, mas fazer tudo debaixo d’agua é um desafio colossal do ponto de vista adaptativo.
Por isso, suas origens evolutivas sempre despertaram muita curiosidade, e nas últimas décadas, peças do quebra cabeça tem se encaixado e tornando a evolução das baleias e seus parentes uma das transições mais didáticas e bem documentadas da evolução biológica.
O primeiro animal que conheceremos para entender a história das baleias é Indohyus.
Ele viveu nas florestas úmidas que existiam nos litorais da Índia, cerca de 50 milhões de anos atrás.
Seu nome significa “porco da índia”, tendo sido descoberto em 1971.
Mas esse animal certamente não é um porco, e sim um membro de uma família de mamíferos totalmente extinta: Raoellidae
Ele tinha o tamanho de um cachorro pequeno, um focinho longo e cascos pares nas patas, característicos dos mamíferos artiodátilos.
Nós chamamos os mamíferos com cascos de ungulados, e eles se dividem em dois grupos: os perissodátilos, como cavalos, antas e rinocerontes, conhecidos pelo seu número ímpar de dedos, e os artiodátilos, conhecidos pelos dedos pares.
Eles são muito mais diversos do que os perissodátilos na atualidade, entre eles estão os hipopótamos, cervídeos, bovídeos, camelídeos, suínos e cetáceos.

Indohyus certamente era um artiodátilo, mas seu ouvido possuía uma estrutura chamada Bulla auditiva, uma ossificação única dos cetáceos, adaptação que permite ouvir melhor debaixo d’agua.
Mas essa não era a única evidência de adaptação para um hábito de vida semi aquático, embora um primeiro olhar no seu esqueleto não pareça sugerir nada diferente da maioria dos animais terrestres.
Sua cauda longa e achatada podia ser usada como estabilizador ou possivelmente um remo submerso.
Além disso, seu esqueleto era denso, facilitando que ele afundasse debaixo d’agua e se movesse dando pequenos toques no fundo do rio, como hipopótamos e capivaras fazem hoje.
Pode ser que as capivaras atuais sejam uma ótima analogia para o hábito de vida adotado por Indohyus.
Elas se alimentam, se reproduzem e descansam em terra firme, mas tem esqueletos densos que permitem que elas sejam ótimas nadadoras e se escondam na água de predadores.
Assim como as capivaras, Indohyus também habitava ambientes próximos de rios e passava uma boa parte do dia em terra firme, usando a água como mecanismo de defesa.
Mas as capivaras são roedores, e surpreendentemente existe um exemplo até mais próximo do próprio Indohyus que pode ter convergido para uma estratégia de vida semelhante: o Chevrotain aquático.

Conhecido como veado com presas, ele é um artiodátilo encontrado nas florestas úmidas da África conhecido por pular na água quando assustado e desaparecer rapidamente.
Para descobrir mais sobre a história da evolução dos golfinhos e baleias, assista o vídeo completo: