Conheça Sinosauropteryx, o primeiro dinossauro com penas encontrado na China, em 1996.
Ao contrário do que as pessoas se acostumaram a esperar de um dinossauro, ele não era gigante, longe disso.
Seu corpo era muito leve e ágil, com pouco menos de um metro de comprimento.

arte: Lucas Mateus
Esse terópode compsognatídeo viveu no início do cretáceo, 125 milhões de anos atrás.
Assim como muitos dinossauros chineses, ele figura entre um dos animais mais maravilhosamente preservados já encontrados na história da paleontologia.
E consequentemente, é um dos fósseis mais bonitos do mundo.
Não só é possível ver sua penugem preservada a olho nu, como parte de seu padrão em vida já é evidente logo de cara.
Observando o fóssil desse animal, percebemos uma camada de estruturas parecidas com pelos, chamadas protopenas.
Elas são, de fato, mais parecidas com pelos do que com as penas das aves, estruturalmente.
A cauda, coberta de protopenas alterna entre regiões mais claras e mais escuras.
Em vida, as verdadeiras cores do Sinosauropteryx eram deslumbrantes: ele era ruivo nas costas, com a sua barriga branca, uma cauda anelada com faixas ruivas e brancas, e uma máscara preta na região dos olhos.

arte: Lucas Mateus
Algo que pode lembrar superficialmente um lêmure ou um guaxinim.
A cor não é meramente estética.
Na natureza, ela desempenha uma série de funções e passa muitos recados.
As cores podem indicar idade, sexo, podem camuflar um animal, ou fazê-lo se destacar, seja pra avisar sobre algum perigo ou pra atrair parceiros.
Do sexo, a proteção, a comunicação, as cores dos animais não são aleatórias, por isso, sabendo as cores, é possível inferir muitas coisas sobre o seu modo de vida.
Um animal que se camufla geralmente costuma ser um alvo fácil, e o tipo de camuflagem nos diz se ele habitava áreas abertas ou fechadas, por exemplo.
Entender que haviam diferenças de cores entre machos e fêmeas pode nos ajudar a olhar para o comportamento reprodutivo e inteligência dos animais.
Mas como foi possível decifrar as cores do Sinosauropteryx?
A chave pra entender está em algo que até mesmo você tem: melanossomas.
Esse é o nome que damos para as células que abrigam a melanina, proteína que nos confere a cor da nossa pele e cabelo.
A melanina é um composto químico extremamente resistente a pressão, radiação e calor, e por isso é usado pelo nosso corpo como uma proteção dos raios solares.
Peles mais claras com menos melanina são mais sensíveis ao sol e se queimam com facilidade.
Melanina é tão resistente que ás vezes ela até se fossiliza.
Em 2010, Michael Benton e equipe publicaram uma pesquisa na universidade de Bristol, argumentando de forma convincente que eles haviam encontrado melanossomas fossilizados em Sinosauropteryx.
Eles usaram aves atuais para inferir as cores que os melanossomas de Sinosauropteryx lhe confeririam em vida.
Isso porque existem algumas variantes do pigmento melanina, e alguns formatos de melanossomas, combinando a análise de seus formatos, distribuição e densidade é possível ter uma boa ideia da cor original de uma estrutura fossilizada.
Isso tudo se a preservação for generosa, é claro, afinal, se trata de um detalhe importante, mas microscópico.

arte: Heitor de Sá
Segundo Benton, “Uma forma de Melanina, chamada Eumelanina confere todas as cores pretas, marrons e cinzas, outro, a feomelanina confere os tons ruivos.
Isso é tudo que mamíferos tem, enquanto as aves tem dois outros pigmentos em suas penas: porfirinas que dão cores roxas e esverdeadas e carotenóides que vão do vermelho ao rosa.”
As aves são as rainhas da visão do mundo animal, algumas espécies enxergam detalhes há quilômetros de distância e um espectro com milhões de cores que nós humanos nem conseguimos imaginar porque não enxergamos.
Não é à toa que elas exibem combinações de cores completamente ousadas, incríveis e tão diversas. Pela estrutura óssea das orbitas e ainda dos cérebros dos dinossauros imaginamos que eles teriam capacidades visuais parecidas com as aves e portanto deveriam enxergar muto bem, o que permitiria serem muito coloridos se isso fosse útil de alguma forma para o estilo de vida deles.
Em 2010, foi demonstrado que Sinosauropteryx tinha melanossomas do formato que abriga o pigmento ruivo: feomelanossomas.
Outras cápsulas de pigmento sugerem que os pelos nos anéis da cauda e da barriga eram brancos, e um único detalhe preto enfeitava o rosto desse animal.
Essa foi provavelmente uma das descobertas científicas mais empolgantes e fascinantes de toda a história.
Sinosauropteryx deveria ser tão famoso quanto o T rex, sendo ele o primeiro dinossauro a ter suas cores verdadeiras reconstruídas pelos paleontólogos.
Mas ele foi só o primeiro.
Tente imaginar esse animal vivo hoje, interagindo com o nosso mundo, que visão seria. Talvez nós fossemos mais chocantes pra ele do que ele pra nós.

arte: Lucas Mateus